Enrique Vila-Matas (1948 - )

Obra Suicídios Exemplares
País Espanha
Direção Flávio Stein
Música (Teclado) Marcelo Torrone
Mediação José Castello




Biografia
Nasceu em Barcelona em 1948. Em 1968 foi viver em Paris, auto exilado do governo de Franco e à procura de maior liberdade criativa. O apartamento onde se instalou foi-lhe alugado pela escritora Marguerite Duras. Durante esses anos subsistiu realizando pequenos trabalhos como jornalista para a revista "Fotogramas”. Vila-Matas publicou o seu primeiro livro, La Asesina Ilustrada, em 1977, e desde então não mais deixou de escrever pois, segundo ele, "escrever é corrigir a vida, é a única coisa que nos protege das feridas e dos golpes da vida." Com a publicação de História Abreviada da Literatura Portátil começou a ser reconhecido e admirado no âmbito internacional, especialmente nos países latino-americanos, França e Portugal. As suas obras são uma mescla de ensaio, crônica jornalística e novela. Desenvolveu uma ampla obra narrativa que se inicia em 1973 e que, até à data, foi traduzida para 29 idiomas. Atualmente é um dos narradores espanhóis mais elogiados pela crítica nacional e internacional.


Indicações bibliográficas
Doutor Pasavento. São Paulo: Cosac Naify, 2010.
Suicídios Exemplares. São Paulo: Cosac Naify, 2009.
Paris não tem fim. São Paulo: Cosac Naify, 2007.
Bartleby e Companhia. São Paulo: Cosac Naify, 2005.
O Mal de Montano. São Paulo: Cosac Naify, 2005.
A Viagem Vertical. São Paulo: Cosac Naify, 2004.


[ Quando fiquei frente a frente com a mendiga, sorri para ela. Respondeu-me no ato com uma gargalhada estridente, os olhos completamente fora de órbita. Seu olhar errante possuía, por mais paradoxal que possa parecer, um grande magnetismo. Eu tinha ouvido falar da Loucura, compreendi que estava diante
dela.
- Todas nós somos umas desocupadas – sussurrou-me ao ouvido enquanto estendia a palma da mão direita.
Nessa mão havia uma moeda antiga, uma moeda já fora de circulação. E era antigo também o ritmo dos pés descalços da mendiga. Fiquei meio paralisado e ela prosseguiu assim:
- Não é verdade que para nós sobra todo o tempo do mundo?
Escute, então, a minha história. O vento golpeou o rosto no instante em que notei que minhas pernas tremiam, e esse vento me trouxe o eco da gargalhada estridente, pareceu-me então que o olhar da mulher, inquieto,
olhar magnético e de espelho, tentava se apoderar de mim, e então deixei a bolsa e o pacote de comida na calçada, e já não quis ouvir mais nada, não quis ouvir conto nenhum. Tirei as botas e fugi dali a toda velocidade. ]

[ pg. 18, trecho do conto Morte por saudade de Suicídios Exemplares, tradução: Carla Branco ]

Nenhum comentário:

Postar um comentário