País Brasil
Direção Sílvia Monteiro
Música (Vozes) Chris Lemos e Thayana Barbosa
Mediação Patrícia Cardoso
Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1881, filho do tipógrafo João Henriques e da professora Amália Augusta, ambos mulatos. Seu padrinho era o Visconde de Ouro Preto, senador do Império. A mãe, escrava liberta, morreu precocemente, quando o filho tinha seis anos. A abolição da escravatura ocorreu em 1888, no dia de seu aniversário de sete anos, mas as marcas desse período, o preconceito racial e a difícil inserção de negros e mulatos na sociedade brasileira nunca deixaram de ocupar o centro de sua obra literária. Em 1900, o escritor deu início aos registros do Diário íntimo, com impressões sobre a cidade e a vida urbana do Rio de Janeiro. Lima Barreto começa sua colaboração mais regular na imprensa em 1905, quando escreve reportagens, publicadas no Correio da Manhã, sobre a demolição do Morro do Castelo, no centro do Rio, consideradas um dos marcos inaugurais do jornalismo literário brasileiro. Em 1909 o escritor passa a publicar crônicas, contos e peças satíricas em veículos como o Diabo, Revista da Época, Fon-Fon, Careta, Brás Cubas, O Malho e Correio da Noite. Colaborou também com o ABC, periódico de orientação marxista e revolucionária. Em 1911, escreve e publica Triste fim de Policarpo Quaresma em folhetim do Jornal do Comércio. Morreu no Rio de Janeiro, no dia 1o. de novembro de 1922, aos 41 anos.
Indicações bibliográficas
Contos Completos de Lima Barreto. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
Diário do Hospício e o Cemitério dos Vivos. São Paulo: Cosac Naify, 2010.
Recordações do Escrivão Isaias Caminha. São Paulo: Penguin Companhia, 2010.
Triste fim de Policarpo Quaresma. Porto Alegre: L&PM Editores, 2010.
A Nova Califórnia. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 2009.
Historias e Sonhos. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2008.
Clara dos Anjos. São Paulo: Scipione, 2005.
Contos Reunidos. Belo Horizonte: Crisálida, 2005.
O homem que sabia javanês. São Paulo: Cosac Naify, 2003.
Lima Barreto - Prosa Seleta. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002.
Contos. São Paulo: Landy, 2000.
Os Bruzundangas. Porto Alegre: L&PM Editores, 1998.
Melhores Contos de Lima Barreto. São Paulo: Global, 1993.
[ — Em onde aprendeu o javanês? — indagou ele, com aquela teimosia peculiar aos velhos.
Não contava com essa pergunta, mas imediatamente arquitetei uma mentira. Contei-lhe que meu pai era javanês. Tripulante de uma navio mercante, viera ter à Bahia, estabelecera-se nas proximidades de Canavieiras como pescador, casara, prosperara e fora com ele que aprendi javanês.
— E ele acreditou? E o físico? — perguntou meu amigo, que até então me ouvira calado.
— Não sou — objetei — lá muito diferente de um javanês. Estes meu cabelos corridos, duros e grossos e a minha pele basané podem dar-me muito bem o aspecto de um mestiço malaio... Tu sabes bem que, entre nós, há de tudo: índios, malaios, taitianos, malgaches, guanches, até godos. É uma comparsaria de raças e tipos de fazer inveja ao mundo inteiro.
— Bem — fez o meu amigo —, continua.
— O velho — emendei eu — ouviu-me atentamente, considerou demoradamente o meu físico, e pareceu que me julgava de fato filho de malaio, e perguntou-me com doçura:
— Então está disposto a ensinar-me javanês?
— A resposta saiu-me sem querer. Pois não. ]
[ trecho de O homem que sabia javanês ]
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