Roberto Bolaño (1953 - 2003)

Obra Putas Assassinas
País Chile
Direção Marcelo Munhoz
Música (Alaúdes) Silvana Scarinci e Roger Burmester
Mediação Isabel Jasinski




Biografia
Nasceu em 1953, em Santiago do Chile, filho de pai caminhoneiro e de mãe professora. A sua infância foi vivida em várias cidades chilenas (Valparaíso, Quilpué, Viña del Mar ou Cauquenes) e a passagem pela escola atormentada pela dislexia. Aos quinze anos a família mudou-se para a Cidade do México. Durante a adolescência leu vorazmente, escreveu poesia - e abandonou os estudos para regressar ao Chile poucos dias antes do golpe que depôs Salvador Allende. Ligado a um grupo trotsquista, foi preso pelos militares e libertado algum tempo depois. De volta ao México, fundou com amigos o Infrarrealismo, um movimento literário punk-surrealista, que consistia na «provocação e no apelo às armas» contra o establishment das letras latino-americanas e suas figuras de proa, de Octavio Paz a García Márquez. Nos anos setenta, Bolaño vagabundeou pela Europa - lavou pratos em restaurantes, trabalhou nas vindimas ou como guarda-noturno de parques, após o que se instalou em Espanha, na Costa Brava, com a mulher e os dois filhos. Ali, dedicou-se à escrita, produzindo uma dezena de obras até sua morte prematura em Barcelona, em Julho de 2003, aos cinqüenta anos.


Indicações bibliográficas
O Terceiro Reich. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
2666. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
Estrela Distante. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
Amuleto. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
Putas Assassinas. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
A Pista de Gelo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
Os Detetives Selvagens. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
Noturno do Chile. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.


[ Após convalescer numa cabana que a chuva destroçava a cada dia, o Olho abandonou a aldeia e voltou para a cidade onde havia conhecido seus filhos. Com atenuada surpresa descobriu que não estava tão distante quanto pensava, a fuga havia sido em espiral e o regresso foi relativamente breve. Uma tarde, a tarde em que chegou à cidade, foi visitar o bordel onde castravam os meninos. Os quartos tinham se tornado moradias onde se amontoavam famílias inteiras. Pelos corredores solitários e fúnebres agora pululavam crianças que mal sabiam andar e velhos que não podiam mais se mover e se arrastavam. Pareceu-lhe uma imagem do paraíso. Naquela noite, quando voltou ao hotel, sem conseguir parar de chorar por seus filhos mortos, pelos meninos castrados que ele não tinha conhecido, por sua juventude perdida, por todos os jovens que já não eram jovens e pelos jovens que morreram jovens, pelos que lutaram por Salvador Allende e pelos que tiveram medo de lutar por Salvador Allende, ligou para seu amigo francês, que agora vivia com um ex-halterofilista búlgaro, e pediu que lhe mandasse uma passagem de avião e dinheiro para pagar o hotel. Seu amigo francês respondeu que sim, que claro, que mandaria logo, e também perguntou que barulho é esse? Você está chorando?, e o Olho respondeu que sim, que não conseguia parar de chorar, que não sabia o que estava acontecendo, que passava horas chorando. Seu amigo francês disse que se acalmasse. E o Olho riu sem parar de chorar, disse que era isso que faria e desligou o telefone. E continuou chorando sem parar. ]

[ pgs. 24 e 25, trecho do conto O Olho Silva de Putas Assassinas, tradução: Eduardo Brandão ]

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