Retratos fiéis da mulher moderna

Publicado em 19/10/11 pelo jornal Gazeta do Povo
Texto: Yuri Al'Hanati
Foto: Valdir Silva

EntreMundos faz leituras dramáticas de Arthur Schnitzler e Milan Kundera, autores com olhares sensíveis sobre a figura feminina

Márcio Mattana é um dos responsáveis pela leitura do projeto

O projeto EntreMundos – Mundo da Leitura, Leitura do Mundo tem como uma de suas principais peculiaridades a escolha de dois autores aparentemente contrastantes que, unidos pela leitura dramática que acontece no palco do Teatro da Caixa, revelam paralelos até então ocultos pela distância geográfica ou literária.

Entretanto, os autores escolhidos para a próxima edição do evento, que acontece hoje a partir das 20 horas, parecem ter mais pontos em comum do que quaisquer outros escolhidos pela curadoria do diretor musical Flávio Stein: o checo Milan Kundera e o alemão Arthur Schnitzler (1862-1931). O mais visível é que ambos tiveram obras adaptadas para o cinema. O primeiro, com o filme De Olhos Bem Fechados, dirigido por Stanley Kubrick, com Tom Cruise e Nicole Kidman nos papéis principais, a partir de sua novela Breve Romance de Sonho; o segundo, com A Insustentável Leveza do Ser, baseado no best-seller homônimo e estrelado por Daniel Day-Lewis e Juliette Binoche.

A outra semelhança será possível verificar quando as obras Crônica de uma Vida de Mulher, de Schnitzler, e Risíveis Amores, de Kundera, forem lidas no projeto EntreMundos: “A figura da mulher moderna, na obra de Schnitzler, é recorrente também na literatura de Kundera, quarenta ou cinquenta anos depois. A mulher em Kundera é emancipada e politizada, reflexo da figura retratada pelo autor alemão”, comenta Flávio Stein, que convidou para esta edição a diretora Lu­­ciana Barone e os atores Márcio Mattana e Airen Wormhoudt. Ele explica que, embora a escolha dos contos ou trechos a serem lidos seja uma prerrogativa do diretor convidado, os autores e as obras são sempre de sua escolha: “Num primeiro momento eu sempre achei que isso pudesse ser muito impositivo da minha parte, mas não tem muito outro jeito, a curadoria é isso, ela pensa o evento como um todo, e todo mundo tem recebido como um desafio prazeroso”.

Luciana, por sua vez, disse que o maior desafio de fazer a leitura de Schnitzler foi sintetizar o livro como um todo de maneira a dar o tom da sucessão de fatos que acometem a protagonista do romance: “Escolhi trechos significativos do romance e preferi usar a voz masculina para as narrativas e a voz feminina para os diálogos e os pensamentos da protagonista. Já no conto ‘Que os Velhos Mortos Cedam Lugar aos Novos Mortos’, do livro Risíveis Amores, alternei as vozes dos atores para compor o constante diálogo”.

A diretora conta também que para acompanhar a leitura de Milan Kundera, o músico Felipe Ayres, que frequentemente acompanha o projeto, optou por usar um violão, e um instrumento um pouco mais incomum – a harpa – para a leitura de Schnitzler. “A harpa pode dar uma leveza, mas dependendo de como for usada, pode dar uma intensidade incrível. Na época de Schnitzler, a harpa começou a ser usada como instrumento de orquestra e a ter essa grande importância dramática entre compositores como Stravinsky e Gustav Mahler. Ela ofereceu algo para a música assim como os autores ofereceram para a literatura esse olhar inusitado”, comenta Stein.

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